Minha produção artística sempre refletiu muito sobre minha história e pessoalidade e nesta produção não foi diferente. Nasci de uma família extremamente religiosa e repleta de mulheres de fé, criada na igreja desde cedo, criei um afeto muito grande com o que a religião significa para as pessoas. Esse afeto me emociona, pois acredito que a religião é aquilo que nos sustenta quando nada mais é capaz de nos trazer paz, é o consolo nos piores dias.  

Tenho uma referência muito profunda de mulheres que fazem a diferença pelo simples fato de existirem: minhas antepassadas resistiram, foram fortes ao extremo, mesmo antes de nascer o feminismo. Imagine minha surpresa quando ouvi que minha trisavó, uma indígena, foi pega no laço, a casco de cavalo, caçada como um animal, presa e forçada a viver uma vida que não era desejada por ela. Isso originou minha bisavó, minha avó, minha mãe e eu. Ouvi também a história de minha avó, que precisou fazer inúmeras jornadas de trabalho para sustentar minha mãe e meu tio, após se divorciar de meu avô que levava uma vida boêmia e negligenciava seus próprios filhos, como se não bastasse as ameaças de morte periódicas. Ela originou minha mãe e eu. Sou cercada de mulheres incríveis vindas das mais variadas religiões e isso me motiva a seguir em frente todos os dias, mostrar um pouco das sensações que possuo dentro de mim, as emoções, a liberdade, o movimento é o que me resta como artista, sensibilizando vocês com aquilo que estilhaça meu coração e ao mesmo tempo serve de muleta em dias obscuros.

Minha vontade nessas produções é exaltar a beleza da força das mulheres independente da origem, cada uma tem seu pilar estabelecido em seu modo de vida e isso não tem preço. Cheguei a conclusão após tanta pesquisa de que as mulheres têm o potencial de força dentro de seus ossos! Se necessário elas mostram as garras e ameaçam te atacar para se proteger, mas não se engane, nós também temos tanto amor em nossos corações que é possível salvar esse mundo da desgraça.  

A primeira série, CAELESTES, mostra um pouco da diversidade e como cada uma possui sua particularidade e característica. Puer Luna faz referência a concepção pagã da deusa tríade, símbolo das fases da lua, da mulher, trazendo em si três faces: a donzela, a mãe e a anciã. Como parte da primeira fase, mostro um pouco da sensibilidade física do meu ponto de vista como uma jovem lua, uma donzela ainda no início da fase lunar. Por fim, temos Partes do UM, com micro e macro performances que resumem o que vi e o que senti com a experimentação de novas religiões e do conhecimento de quem sou e de onde vim. Essas obras são a catarse do meu ser, minha libertação, meu modo de demonstrar fraqueza, minhas lágrimas de alegria e de dor.